Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

É o Juvêncio?

É o Juvêncio?

Geraldo Duarte*

Brasília. Fins de 1980. Recém-chegados, concluindo a mudança para o apartamento onde residiríamos, deparamo-nos com um problema deveras preocupante. Conseguir uma linha telefônica.

Afora o valor exorbitante, quase o de um veículo, e registro na declaração do Imposto de Renda, dificuldades outras existiam. 

Encontrasse a preciosidade, fazia-se necessário saber, junto à empresa responsável, da possibilidade de instalação no imóvel. Resposta à consulta demorava dias, período no qual seria examinada a disponibilidade de conexão na caixa distribuidora.

Na fila de requerimento dessa verificação, vencida a anterior, em que se recolhia uma taxa bancária, havia quem já recorrera por vezes e reclamava.

Conseguidos uma aquisição com o indicativo da área correspondente, terminal vago de rede e uma semana de espera, veio à promessa de cinco dias para a colocação. Foram-se mais.

Parecia festa a comemoração dos benditos sinais de chamada de telefonemas inaugurais aos familiares. Antes, o transceptor de radioamador, com prefixo PT7-GY, era o meio falho de comunicação.

Com o telefone funcionando, surgiu novo contratempo. À época, os contatos interestaduais tinham alíquotas menores depois das 20, 22 e 24 horas. E, diariamente, passada a meia-noite, o tilintar e a voz de uma senhora: “É o Juvêncio?”.

Dizíamos que não, explicávamos da transferência, mas nada dela desistir de ligar.

Quando retornamos de uma viagem, a secretária do lar, disse ter feito parar as ligações: “Informei que o Juvêncio morrera!”.

De tão embasbacados, a dúvida: repreendê-la ou desconversar? Certo ou errado, optamos pela dúvida.

   

                                  *Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.

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